O aumento da automação de centros de distribuição, aplicada atualmente em 75% das entregas de produtos, é uma saída para que a divisão de varejo on-line da Amazon opere com custos mais enxutos, em um cenário de desaceleração dos negócios de grandes empresas de tecnologia.
Na sede de pesquisa e produção de robôs da Amazon, em Boston, nos Estados Unidos, a empresa apresentou nesta quinta-feira uma nova geração de ajudantes inteligentes para separação de itens em encomendas e carregadores de gaiolas com pacotes de mercadorias. O braço robótico Sparrow (pardal, em inglês) e o carregador Protheus começam a trabalhar nos próximos anos.
Para a gigante de e-commerce, reduzir tempo, erros e danos na linha de produção, mantendo os prazos de entrega, é fundamental especialmente pela projeção de carrinhos virtuais mais modestos na Black Friday e no Natal deste ano, diante do temor de recessão da economia americana.
Mae Le, vice-presidente de entregas de última milha da empresa, diz que a empresa deve voltar a contratar pessoas nos próximos anos, não em 2023. Nos próximos meses as contratações estão congeladas, conforme anunciou a companhia na semana passada.
“Nos últimos anos, contratamos bastante para ampliar nossos negócios de logística e cadeia de abastecimento”, comenta Le. “Agora, o que estamos fazendo é parar por um momento, olhar para onde os negócios estão caminhando e repensar sobre o que os clientes realmente querem”.
A divisão de robótica não passa por redução de equipes, afirmou Scott Dresser, vice-presidente da Amazon Robotics. “A única coisa que tivemos foi uma consolidação em alguns programas de estágio inicial, que receberam muitos investimentos nos últimos dois anos, mas robótica está crescendo tremendamente nos últimos anos”.
Entre os exemplos de projetos da divisão de robótica para cortar custos, Dresser cita o Cardinal, um sistema de melhoria na capacidade de empacotamento iniciado há seis meses. “Isso pode reduzir o número de caminhões para entrega e a área de transportes está entre os setores nos quais buscamos reduzir custos”.
Além de frear contratações, a Amazon também deve enxugar equipes de divisões menos lucrativas. Segundo documentos vistos pelo “The Wall Street Journal”, demissões na divisão de dispositivos, incluindo o leitor Kindle e a assistente inteligente Alexa, estariam nos planos de ajustes de Andy Jessy, executivo-chefe da Amazon. Uma porta-voz da empresa
Procurada pela reportagem do Valor, a Amazon Brasil respondeu que “não tem objetivos de cortes de posições corporativas e redução de atividades no país”.
Na divulgação do balanço do terceiro trimestre, além de apresentar um prejuízo de US$ 2 bilhões, a empresa disse que espera registrar receita de US$ 140 bilhões a US$ 148 bilhões no quarto trimestre, representando uma expansão anual de 2% a 8%. Analistas esperavam que as vendas chegassem a US$ 155,2 bilhões neste fim de ano. De julho do ano passado
A robotização ainda não é realidade no Brasil ou na América Latina. “Por enquanto estamos concentrando a estratégia nos EUA, Canadá, Japão, Austrália e em alguns países da Europa”, disse o vice-presidente da Amazon Robotics, em entrevista a jornalistas latino-americanos.
O custo de importação dos robôs produzidos pela Amazon para o Brasil é uma barreira para a automação avançar nos centros de distribuição da empresa no país, informa Rafael Caldas, líder de logística da Amazon no Brasil. “Hoje, o imposto de importação é de 100% sobre o valor de um robô”, diz.
A divisão de logística da Amazon foi criada em 2014, prestando serviços de entrega exclusivamente para a Amazon. Há pouco mais de um ano, desde setembro do ano passado, a empresa passou a oferecer entregas a outros varejistas on-line, concorrendo com empresas como Fedex e UPS nos Estados Unidos, no Reino Unido e na Índia. No Brasil, por enquanto, a Amazon não é a única “big tech” a enxugar custos. No início desta semana a Meta, dona de Facebook, WhatsApp e Instagram, anunciou que vai demitir 11 mil pessoas, ou 13% de sua força de trabalho. E na sexta-feira da semana passada o Twitter cortou metade dos 7,5 mil funcionários, sob o comando de Elon Musk.
A desaceleração no ritmo de crescimento das vendas afeta várias companhias de tecnologia, em especial aquelas com grandes operações nos Estados Unidos, onde se projeta um cenário de recessão para 2023. As fontes disseram ao “Wall Street Journal” que a Amazon vem alertando funcionários que trabalham em áreas que dão prejuízo a procurarem emprego em
O centro de pesquisa, desenvolvimento e produção de robôs da Amazon chamado BOS27, foi inaugurado em outubro de 2021. Na área de produção de robôs, a Amazon conta 200 pessoas dedicadas em seis linhas de manufatura de robôs.
Em uma hora, a equipe consegue montar robôs como o Hércules, que atua no transporte de prateleiras de armazenamento. Por ano, são produzias 330 mil unidades somente para uso da empresa. Hoje há 550 mil robôs Hércules rodando pelos centros de distribuição da empresa.
Além do Sparrow, a Amazon também apresentou o Protheus, um robô inteligente de movimentação de prateleiras, com capacidade para movimentar até 400 quilos. Similar a um aspirador-robô gigante e robusto, o Protheus entra em operação a partir do ano que vem, como uma versão mais inteligente e simpática do Hércules, contando com uma expressão facial para interagir com os funcionários.
Fonte: Valor econômico