De uma série de projetos apontados pelo governo como prioritários na área de infraestrutura, o novo marco do saneamento básico foi um dos poucos que avançaram em 2020, até agora. Ficou para o período pós-eleições municipais uma lista de pendências, com destaque para o projeto de lei da cabotagem, na Câmara, e para o novo marco regulatório das ferrovias, no Senado. Os dois estão previstos para votação nas próximas semanas.
Também conhecido como BR do Mar, o projeto que trata da cabotagem — a navegação entre portos do país — é uma das grandes apostas do presidente Jair Bolsonaro para o fim do ano. A matéria, que tem como objetivo facilitar e ampliar essa modalidade de transporte, está trancando a pauta do plenário, o que significa que outros projetos não podem avançar enquanto ela não for votada. Mas ainda há resistência.
Uma das principais críticas ao projeto é que ele facilita o afretamento de embarcações estrangeiras. O texto permite que empresas brasileiras com frota nacional aluguem embarcações estrangeiras para reforçar a frota. Em nota técnica, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) diz que as regras sugeridas mantêm os “elevados níveis de concentração do setor” e dificultam a “entrada e expansão de novas empresas no mercado”.
Obstáculos
Barros reconhece que há “um lobby muito forte” por mudanças no sentido de priorizar a indústria naval brasileira. Além disso, representantes de caminhoneiros ameaçam fazer uma paralisação, caso o projeto seja aprovado sem alterações. A Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava) pediu ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em outubro, que retire a matéria de pauta, por não ter sido discutida com os setores afetados.
O problema, para a Abrava, é que o BR do Mar pode diminuir o trabalho para os caminhoneiros autônomos de carga rodoviária. Bolsonaro afirma que, pelo contrário, o programa será benéfico para os motoristas, porque provocará aumento dos fluxos de curta distância. “O caminhoneiro ganha mais por km rodado, desgasta menos o equipamento e, portanto, tem maior receita”, escreveu, no Twitter, na última terça-feira, 23.
A expectativa do governo é que, com o programa, seja possível expandir a frota dedicada à cabotagem em 40% em três anos. A meta é que, dentro desse prazo, o número de contêineres transportados por ano chegue a 2 milhões. Hoje, são 1,2 milhão.
Adaptado de: Exame.com