O ano de 2020 não foi fácil para ninguém no Brasil e no Mundo, a crise suscitada pela Covid-19, além de ter impactos diretos na saúde, também afetou de forma drástica todas as empresas do país, em especial em no primeiro semestre do ano.
O mercado de Transporte Rodoviário de Carga Fracionada – TRCf durante a Pandemia
Desde a chegada da pandemia no Brasil a NTC&Logística – Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística passou a acompanhar o impacto causado por ela ao TRC.
A base de informação dele foi o volume de carga transportada que está ligada diretamente ao faturamento, produção, número de veículos e de colaboradores empregados pelo setor.
Durante 20 semanas a variação no volume de carga transportado em relação a condição normal mostrou uma queda inicial forte, em uma semana o índice caiu 26 pontos, em duas já havia atingido 38,7 pontos e com 5 semanas atingiu a sua máxima com 45,2 pontos. Após o pico ficou estável por 6 semanas no patamar de 40 pontos e foi melhorando semana após semana até que na vigésima semana alcançou os 22 pontos.
O desafio para o TRCf foi um pouco diferente dos demais, pois, assim como os setores de saúde, segurança pública e alimentício, ele também não pode parar. E, teve que continuar trabalhando com 40% a menos de carga, tendo que enfrentar dificuldades do tipo:
1. Pagamento dos Custos Fixos: água, luz, comunicação, IPTU, aluguéis, pessoal administrativo etc e operacional, a mão de obra de motoristas e ajudantes, o custo fixo dos veículos (IPVA, seguro, licenciamento etc), tudo com uma receita 40% menor.
2. Cumprimento de Prazos: manter a mesma frequência de entregas da condição anterior a pandemia, só que com 40% a menos de carga.
3. O custo do retorno vazio: com a perda das cargas de retorno passou-se os custos de ida e volta e carga em apenas um sentido.
4. Descompasso no fluxo de caixa: os principais custos da atividade de transporte são pagos praticamente a vista, em muitos casos antecipados e o frete se recebe com prazos longos.
5. Aumento da inadimplência.
6. Esgotamento da capacidade dos terminais em função da dilatação dos prazos de entrega, períodos maiores para compor as cargas dos veículos e os destinatários que tiveram que fechar o seu estabelecimento.
A pesquisa apontou que mais de 90% das empresas foram afetadas negativamente pela crise, em torno de 6% não sofreram impacto algum e 4% das empresas foram privilegiadas com aumento no volume de carga.
Mas mesmo com as dificuldades que o setor de transporte rodoviário de cargas fracionadas passou, ele abasteceu: hospitais, farmácias, postos de combustíveis, indústrias (alimentícias, farmacêuticas, de higiene e limpeza, entre outras), supermercados, lojas de peças, escoando a safra recorde, além de atender todo o mercado de e-commerce. Contudo, este esforço todo deixará sequelas para o setor, algumas empresas vão ficar pelo caminho, outras sairão debilitadas, mas muitas sairão da crise mais forte e eficiente.
O Comportamento dos Custos do TRCf
Os custos da atividade de TRCf estão concentrados em três insumos: combustível, mão de obra e veículo (caminhões e seus implementos), eles representam 90% dos custos operacionais e algo como 60% do faturamento de uma empresa de transporte de carga fracionada.
Combustível – Diesel
O diesel se comportou bem, diminuiu o seu valor, pelo menos até o meio do ano, mas a partir de agosto vem em uma escalada de aumento e deve encerrar o ano com viés de alta e no segundo semestre do ano, até novembro, ele já subiu 15,1%. Mesmo assim, o preço médio anual do litro do diesel de 2020 (R$ 3,426) ainda deve terminar o ano abaixo da média de 2019 que foi de R$ 3,630.
Mão de obra
Como consequência da crise causada pelo Coronavírus houve dissídio salarial apenas em algumas regiões do país em 2020, pouco se pôde reduzir salários e jornadas, e foram expressivos os custos das empresas com demissões. Por outro lado, a súbita melhora da economia no segundo semestre trouxe de volta o problema da falta de motoristas e as empresas estão tendo que oferecer valores maiores para não ficar com veículos parados e atender a demanda do mercado.
Veículos e Implementos
Os preços dos veículos de carga e seus implementos tiveram aumentos significativos ao longo do ano. A variação média dos preços dos caminhões no ano foi de 11%, mas alguns modelos alcançaram índices próximos a 40%.
Com o agravante de não ter veículos para pronta entrega, o prazo médio é de 4 meses e os modelos mais procurados chegam a ter uma espera de 6 meses.
Quando se trata dos implementos a situação é a mesma dos caminhões, tempo de espera elevado e reajustes próximos a 40%.
Pneus
Os pneus apesar de não terem uma participação significativa nos custos operacionais do veículo, eles também tiveram aumento na casa dos 30 a 40%. E, o mais grave é que está em falta. Então temos veículos e implementos novos que não podem rodar por falta de pneu.
É cada vez mais comum ouvir relatos de transportadores com dificuldade de encontrar e contratar caminhoneiros seja na condição de spot ou agregado, mesmo oferecendo valores maiores. Situação que também pressiona o custo do serviço de transporte.
Aluguéis
Aluguéis representam em torno de 5% dos custos totais de uma empresa de transporte de cargas fracionadas. Considerando que o IGPM é o índice de correção dos contratos de aluguéis e está acumulado em 24,52%, ele passa ser mais um item a desafiar o equilíbrio financeiro das empresas do setor, elevando os custos e pressionando o frete.
Previsões para 2021
Para 2021 a expectativa é de termos um pouco de alívio no início do ano, quando a demanda historicamente diminui. Entretanto, a depender da condição do mercado do ano que vem, e todos nós esperamos uma recuperação, se não vigorosa pelo menos razoável, espera-se que todas as dificuldades enfrentadas pelo setor no segundo semestre de 2020 devam se intensificar em 2021, aumentando a pressão sobre os custos da atividade.
A começar pelo reajuste salarial que provavelmente deve ser negociado com base no acumulado de 2 anos.
O INCT-F deve fechar este ano próximo a 10% (INCT-F de novembro para o acumulado dos 12 meses foi de 8,94%). Já para 2021, sempre com a ressalva de que se trata de uma previsão e sua efetivação depende do comportamento da variação do preço dos insumos, tem-se a expectativa de um INCT-F neste mesmo patamar de valor, podendo avançar até um pouco mais a depender do reajuste salarial a ser fechado no próximo ano.
Outra situação que preocupa é a falta de mão de obra, principalmente de motoristas e autônomos, o que dificulta muito o atendimento futuro de demandas maiores por transporte. É bom lembrar que todas as vezes que este problema tendia a se tornar crítico, houve uma crise para amenizá-lo e, agora estamos saindo de uma crise já com o setor sofrendo com a falta de mão de obra.
Enfim, no passado um INCTF neste patamar não assustaria ninguém, mas na atual conjuntura, com uma SELIC na casa dos 2,0%, ele se torna um valor considerável. Portanto, o transportador e seus contratantes devem ficar alerta e se preparar para arcar com este aumento de custo, para não serem pegos de surpresa. Até porque, os reajustes de frete que em geral acontecem no início do ano, em muitos casos, por conta da pandemia, não ocorreram e contribuíram para o aumento da defasagem do frete, para se ter uma ideia o acumulado de 24 meses do INCT-F está em 14,2% (fechamento de novembro/20).
Fonte: Portal NTC&Logística